quinta-feira, 24 de março de 2011

Entrevista ao Blog "Legislativo Verde"

Legislativo Verde: Como você vê a atuação do poder Legislativo de municípios nas ações favoráveis ao meio ambiente?

Flávio Paschoal: Entendo que algumas iniciativas acontecem sem visão macro, sem entendimento e conhecimento aprofundado sobre o assunto. Falta a participação de estudiosos na tomada de decisão quanto a leis restritivas. Estas iniciativas precisam ser estudadas conforme a realidade local. As leis precisam ser mais complexas e abrangentes.

LV: De quem deve partir a iniciativa da preservação ambiental?

FP: Acredito que não devemos apontar um único responsável pela iniciativa. Os políticos, em todas as suas esferas, são representantes do povo e ressalvo que a pressão pública pode transformar um país. Veja, se os parlamentares assumissem com mais vigor a questão ambiental ao mesmo tempo em que o povo adota medidas diárias de controle quanto ao consumo dos patrimônios naturais e a geração de lixo, nós alcançaríamos um objetivo comum. O fato é que se todos os seres humanos começassem a cuidar melhor do nosso planeta de hoje para amanhã, mesmo assim, precisaríamos de décadas para visualizar alguma melhoria significativa na qualidade e no equilíbrio entre homem e natureza. Precisamos de todos e não só de um responsável.

Falta a participação de estudiosos na tomada de decisão quanto a leis restritivas. Estas iniciativas precisam ser estudadas conforme a realidade local.

LV: O que você acha das ações municipais em relação ao meio ambiente?

FP: É preciso manter o poder restritivo, ou seja, o poder municipal assumir as aplicações de leis com caráter preventivo. Só o município possui compreensão exata da questão ambiental em suas terras. “O cidadão não mora na União, não mora no Estado, mora no município”, costumava dizer o ex-governador paulista Franco Montoro. Sou conivente a este pensamento.

LV: Qual a importância das pequenas ações em prol do meio ambiente?

FP: Quando falamos em pequenas ações longe dos olhos da comunidade é a mesma coisa que dizer que elas não existem. Se eu consigo economizar um litro de água por dia ao adaptar a descarga do vaso sanitário, no fim do mês eu colaboro com menos 31 litros. Agora, vamos imaginar que os 190 milhões de brasileiros façam o mesmo, cada um na sua casa, com suas ações individuais, consegue calcular e visualizar os resultados que atingiríamos? Especialistas afirmam que os “danos cotidianos” matam mais que os acidentes ambientais “juntos”. Fica fácil afirmar que cada gesto, por menor que seja, conta.

LV: Atuante nas discussões e assuntos ligados ao meio ambiente, como você analisa o papel da sociedade na preservação ambiental?

FP: Omissa, facilmente influenciada, pouco estimulada e certamente longe de ter o mínimo de conhecimento necessário para adotar mudanças significativas. A PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) foi aprovada no dia 23 de dezembro de 2010, após 21 anos de discussão no Congresso Nacional. Eu me questiono como uma classe pode exercer um papel de influência se nem ao menos sabe que existe esta política? Defendo a idéia de que educação ambiental é importante. Um povo ciente, crítico e informado poderá agir, se manifestar contra resoluções partidárias e exercer um papel decisivo na comunidade.

LV: O que você prevê para o futuro das discussões sobre meio ambiente? Elas devem se tornar cada vez mais discutidas ou se trata de uma preocupação momentânea?

FP: Sou otimista e afirmo que considerar momentânea não cabe mais neste discurso. Não existe a menor possibilidade de a questão do planeta sustentável escapar por entre os dedos. Vejo a cada ano novas conquistas e mais pessoas engajadas, de políticos a instituições. A legislação brasileira, que é uma das mais complexas do mundo, teve seu divisor de águas com a lei 6938/81, pouco mais de 30 anos. Estamos no começo de uma nova revolução, a revolução verde. Somos a geração que irá iniciar este processo. Iremos reverter a falta de compreensão e conhecimento do poder maléfico que o homem exerce ao meio quando desenfreado e egoísta ao ponto de pensar exclusivamente nele e no momento. Acredito que iremos melhorar nossas relações. Não é e não será fácil nem para mim e nem para as gerações futuras, mas iremos conseguir sim. Está mensagem positiva também precisa ser propagada. Não me lembro onde ouvi, mas gostei muito: “Precisamos derreter nossos velhos conceitos antes do derretimento das geleiras”. Este processo já começou.

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